quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O fim da CosacNaify



A notícia, que passa despercebida em tempos de turbulência política e econômica, é uma verdadeira bomba para a parcela ínfima dos que se dedicam à cultura. A Cosac Naify fecha as portas e 2016 começará mais pobre, sem a melhor editora de arte do país.

Em breve serão raridade as publicações dessa equipe conhecida pela escolha primorosa dos tipos, do papel, da diagramação, mas que realizou uma façanha ainda maior em termos técnicos no mercado nacional: reproduzir obras sem distorção de cores e proporções, com boa resolução e sem cortes.

O apuro gráfico e estético, claro, é valor agregado, porque o principal motivo de satisfação por sua existência foi desde o início o fato de preencher lacunas na bibliografia em língua portuguesa. Pegue a relação de livros exigidos por um curso superior de arte americano ou europeu e tente encontrar edições em português. Se você achar dez por cento, levante as mãos para o céu. O Brasil está quarenta anos atrasado na área.

Editoras nacionais precisam se reinventar nesses tempos de crise e decadência generalizada. Um livro é um produto e, como qualquer produto, deve custar aquilo que as pessoas estão dispostas a pagar. Os da Cosac são caros, mas atendem às expectativas - o que é difícil por aqui. Quem compra, adquire um hoje, outro no mês que vem, espera promoções e no final tem uma prateleira só deles.

A cultura independente no Brasil sempre foi atividade paralela. O sujeito vive de outra coisa e banca com recursos próprios o estudo e divulgação daquilo que valoriza. Isso é válido tanto para quem produz quanto para quem consome. Quando a fonte seca, o processo é suspenso.

Mas a efemeridade dos projetos culturais não depende apenas da explicação econômica. A maioria das pessoas acha normal gastar 100 Reais num almoço e considera caro pagar 50 num livro. Também cansei de descobrir que meus exemplares tinham sido emprestados a gente que troca de automóvel a cada dois anos mas julga desperdício ter uma estante em casa. As dezoito primaveras do meu carro me proporcionam uma biblioteca cada vez melhor.

Sim, me arrependo de ter ajudado, sem saber, montadoras e restaurantes, em vez de editoras que fazem alguma coisa pela cultura. O fechamento da Cosac me fez reavaliar isso. Agora só empresto a quem realmente precisa.

Outro grande problema do mercado é o de que mesmo quem não pensa por cifrões gastronômicos e automobilísticos, na hora de comprar livros esbarra na total falta de hierarquia para a escolha. Arte no Brasil se transformou em assunto exclusivamente acadêmico. Não há uma cultura de arte fora do ambiente universitário e o sujeito que não faz uma pós-graduação ou mestrado fica completamente à margem do assunto: chega na livraria, olha os títulos e não faz ideia de onde inseri-los num contexto. Não sabe a importância ou não de cada um.

Um editor de livros de arte precisa se adequar a essa realidade, do contrário sua experiência será efêmera, por mais qualidade que tenha seu trabalho.

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