sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Daniel Arsham - Três Telefones Públicos Erodidos


Três Telefones Públicos Erodidos, 2014 cinza vulcânica, vidro moído e Hydro-Stone

Objetos resgatados em escavações são capazes de elucidar um universo de relações sociais extintas. Soterrados, seguiam seu gradual rumo à decomposição até que tiveram a trajetória interrompida e retornaram ao contexto humano, sob novo propósito. Transformados em testemunhos de outras eras, de outros povos e concepções de vida, têm na oxidação e desintegração um valor que expressa o abandono pelo homem e o processo de reconquista de sua matéria pela natureza.

Cada matéria possui um tempo específico, uma duração própria, baseada em sua composição e resistência aos ataques sofridos. E sua deterioração está intimamente relacionada a essa escala temporal. Quando há uma interferência nessa escala, recorremos aos instrumentos disponíveis para a decifração de sua causa.

Telefones públicos em uso ainda havia pouco mas erodidos como se encontrados num sítio arqueológico representam a imposição de um tempo à matéria que não corresponde ao estabelecido pela natureza. A decomposição já não decorre de sua escala própria, mas é uma figura de linguagem, pertencente às relações do homem com aquilo que esses objetos para ele representam.

A cada dois ou três anos, transformações tecnológicas fazem de nossos hábitos algo ultrapassado. É como pessoas da pré-história que passamos a ver aquilo que um dia fomos. Mudanças na tecnologia nos impõem mudanças de costume e, ao olharmos esses telefones, percebemos a radical inversão ocorrida em nossas vidas nas duas últimas décadas.

Se um artefato de uso público era usado para a comunicação individual, hoje um equipamento de uso individual é usado para tornar pública nossa comunicação. Falamos mais ao público que para indivíduos. Temos livre acesso ao espaço alheio e ao mesmo tempo não sabemos se somos ouvidos no que transmitimos. Descartamos a comunicação recebida e temos descartado aquilo que comunicamos.

À obsolescência de um meio se sucedeu a obsolescência de um valor e nossa privacidade tornou-se mero detalhe no conjunto das novas relações humanas da mesma forma que telefones hoje em dia são apenas uma função entre as inúmeras de um aparelho levado no bolso.

Telefones públicos erodidos demonstram que, ao se generalizar, a comunicação humana atinge o paroxismo.

Porque a satisfação do anseio por tudo comunicar conduz inexoravelmente o indivíduo à obsolescência de si.

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